David Teles Pereira (Portugal, 1985) |
La Poésie en ce temps Qui nous sommes Une asbl, pour quoi faire ? L'équipe 31 mars - 2 avril 2017 15-17 avril 2016 24-26 avril 2015 25-27 avril 2014 12-14 avril 2013 20-22 avril 2012 01-03 avril 2011 23-25 avril 2010 24-26 avril 2009 11 mars 2009 18-20 avril 2008 |
|||||||
Biographie |
David Teles Pereira nasceu nas Caldas da Rainha, em 1985, e vive em Lisboa. Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (em 2008), é docente do mesmo estabelecimento de ensino (desde 2010), tendo leccionado as cadeiras de Direito Romano, História das Relações Internacionais e História das Ideias Políticas. Encontra-se, de momento, a preparar a tese de doutoramento em História das Ideias Políticas. É cofundador da revista de poesia Criatura, tendo publicado seis números desde 2008, e da editora Língua Morta, criada em 2010, e que já publicou cerca de 40 livros, num espaço de cerca de dois anos. Publicou em 2010 o seu primeiro livro, Biografia (Língua Morta) e tem diversos poemas em revistas de poesia e publicações colectivas. ........................ Né en 1985 à Caldas da Rainha, David Teles Pereira vit et travaille à Lisbonne. Il est écrivain, critique, blogueur, éditeur, professeur et l’un des poètes les plus emblématiques de la jeune scène portugaise. Diplômé en Droit de l’Université de Lisbonne (en 2008) il y enseigne depuis 2010 le Droit romain, l’Histoire des relations internationales et l’Histoire des idées politiques, sujet du doctorat qu’il prépare actuellement. Co-fondateur avec le poète Diogo Vaz Pinto de la revue littéraire Criatura dont 6 numéros sont parus depuis 2008 et qui est devenue en quelques années une référence. Il a aussi lancé en 2010, toujours avec Diogo Vaz Pinto, la maison d’édition de poésie Lingua Morta qui a déjà publié une quarantaine d’ouvrages. David Teles Pereira a publié, en 2010, son premier livre Biografia aux Ed. Lingua Morta ainsi que plusieurs poèmes dans des revues de poésie et des publications collectives. Il y parle du voyage d’un Juif polonais (son grand-père) qui quitte la Pologne en rêvant de trouver le bonheur en Amérique mais qui finit par atterrir au Portugal… L’univers poétique de David Teles Pereira qui passe avec talent d’un ton spirituel et joyeux à un ton plus agressif, est empreint d’humour, voire de cynisme. |
|||||||
Poème |
Bem-vindo aos anos zero deram-me a riqueza, mas não me disseram o que fazer com ela Yevgeny Yevtushenko Com a minha idade, o meu pai já era um homem honrado, o meu avô trabalhava na marinha mercante, disparava ocasionalmente um ou dois foguetes em direcção a terra seca, em homenagem ao amor de uma mulher que conheceu antes da minha avó e que me teria dado olhos azuis e muito menos problemas. Aos dezoito anos os meus pais participaram na Revolução. O meu avô também. Tinha quarenta e cinco. Depois os meus pais casaram, desculparam-se com o ciclo da vida, o país parecia estar no bom caminho, a casa ainda não. Quis ser actor o meu avô, depois de ter passado cinco dias e quatro noites a traduzir uma peça de Brecht num quarto da pensão Rosa com vista para o rio Sado. Então nasceu o meu irmão com os olhos que - toda a gente confirmava - eram iguaizinhos aos da minha mãe. Depois nasci eu e depois a minha irmã, com olhos de Varsóvia, não tão honrados quanto belos. Eu ainda nasci em Portugal, a minha irmã já não, nasceu na CEE, que entretanto tinha ensinado a minha mãe e o meu pai a serem ainda mais perfeccionistas nisso de serem honrados. O meu avô continuava a traduzir Brecht e desconfiava da PAC e de tudo aquilo que pudesse ser formulado apenas em três letras. Para ele, no mínimo, eram necessárias quatro. Foderam-me a vida, o meu pai e a minha mãe, e o pior é que o fizeram para que eu pudesse chegar aos vinte e três anos e dizer que já sou um homem honrado, tal como o meu pai tem sido, ao contrário do meu avô, que prefere Brecht à linear organização comercial do novíssimo amor português. E pior ainda é que tenho vinte e três anos e corro o risco de já ser um homem honrado. Welcome to the zero years I was given wealth, but not told what to do with it Yevgeny Yevtushenko At my age, my father was already an honourable man; my grandfather was in the merchant navy, he occasionally fired one or two rockets towards dry land in homage to his love for a woman whom he had met before my grandmother and who would have given me blue eyes and far fewer problems. Aged eighteen my parents took part in the Revolution. And so did my grandfather. He was forty five. Then my parents got married giving as an excuse the cycle of life, the country that seemed on a good path, the house not quite yet. My grandfather had once wanted to be an actor, after having spent five days and four nights translating a play by Brecht in a room of the Rosa hotel with a view over the river Sado. Then my brother was born, his eyes - a widely acknowledged fact – just like my mother's. I was born afterwards and later on, my sister, with Warsaw eyes, not as honourable as they were beautiful. I was born in what was still Portugal, but not my sister, she was born in the EEC, which in the meantime had taught my mother and my father to be even more perfectionist in the business of being honourable. My grandfather was still translating Brecht and mistrusted the CAP and all that could be encapsulated in only three letters. For him, the bare minimum was four. They fucked me up, my mum and dad and worst of all, they did it so that I could reach twenty three years of age and be able to say already I’m an honourable man like my father has been, unlike my grandfather who would rather prefer Brecht than the plain commercial logic of this brand new Portuguese love. And even worse still, I’m now twenty three and liable to become an honourable man. (traduit par Ana Hudson) |
|||||||